domingo, 27 de fevereiro de 2011

Uma conversa sobre espontaneidade

Partindo da cena de uma família almoçando reunida em volta de uma mesa: estão dispostos dessa maneira por um hábito antigo e muitas vezes o pai decretado como chefe ocupa a cabeceira e a mãe logo atrás a cabeceira da outra ponta da mesa. Não sei porque, mas adoro mesas redondas. Numa mesa redonda ninguém fica na cabeceira, pois ela não existe. Coitada da mesa retangular ou quadrada é nossa cabeça que pira sobre hierarquias tolas.
Hoje tornou-se hábito cada integrante da família almoçar em um canto da casa, em frente ao computador ou na frente da televisão em uma certa alienação. Especialistas recomendam voltarmos aos velhos hábitos da família reunida na mesa para haver uma comunicação, integração, reaproximação e não sei mais quantos "ãos" na família novamente. O efeito psicológico claro, tem efeito e é nisso que os especialistas se baseiam, mas isso não é o bastante. A doença é mais profunda do que isso.
Creio que as famílias nunca estiveram em total harmonia apenas fingiam melhor que hoje.
Uma espécie de doença que só muda de cara, mas os sintomas são os mesmos.
Como ter uma convivência espontânea sendo que ela já se tornou há muito um esforço?
Agora só recomendam nos esforçarmos para voltarmos a esforçarmo-nos a conviver saudavelmente?
Se a doença nasce na família é impossível extrair dela mesma a saúde. Pode haver um remedinho na farmácia da esquina, mas o chazinho caseiro só alivia a dor. Ou ao contrário, se a família é o veneno está nela o antídoto.
Não é ruim sentar à mesa quando todos compartilham dessa mesma vontade, não é ruim cada um ficar no seu canto se quer um pouco de espaço, mas o que vejo é uma doença em ambas as atitudes, pois a primeira é forçada e a segunda é uma resposta a falta de individualidade, liberdade que se encontra no seio familiar e incrívelmente essa falta de indidualidade nos faz tornarmos individuais, mas de uma maneira doente, inconciente como um protesto.
A espontaneidade já virou regra e quando isso acontece é porque ela está morta. As coisas boas só podem vir da liberdade.
Não são os hábitos que precisam mudar. O que é hábito bom? E o ruim qual é?
Tudo está na nossa alma. Se nos permitirmos viver e deixar viver a espontaneidade virá espontaneamente. Apenas deixemos o amor nos carregar mesmo que ele seja apenas uma curta brisa.

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